domingo, setembro 29, 2024
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Após atender mais de 5 mil mulheres agredidas, Creas diz que missão é cessar ciclo de violência doméstica

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“O mundo não é cor de rosa”, desabafa Silvana Maria dos Santos Tomaz após atender um caso de violência doméstica em Porto Velho. Silvana coordena o Centro de Referência Especializado da Assistência Social no Atendimento à Mulher Vítima de Violência Doméstica (Creas Mulheres) e, diariamente, lida com situações de agressões praticadas por homens, sejam elas de maridos contra companheiras, de filhos com as mães ou de pais contra filhas.

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No local são oferecidos atendimentos e orientações às vítimas, tanto na área social, psicológica e jurídica. Ao todo, desde a criação do Creas, em 2010, mais mais de 5 mil mulheres foram atendidas após serem vítimas de violência doméstica.

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Silvana explica que o Creas é um ponto de apoio para auxiliar a vítima de violência. “A principal missão do Creas é cessar o ciclo da violência contra essa mulher. No primeiro momento em que essa mulher vem buscar nosso atendimento, ela vai encontrar uma equipe à disposição dela”, diz.

Trabalhando no Creas desde 2017, a coordenadora conta que a violência se retroalimenta e, para cessar esse ciclo, é necessário um posicionamento da própria vítima.

“O ciclo da violência não acontece da noite para o dia. O agressor começa afastar a vítima de tudo. Dos familiares, amigos, ciclo social e, ao mesmo tempo, ele humilha essa mulher e destrói a autoestima dela. Assim ela se torna fragilizada e vulnerável. Elas são esmagadas por eles”, afirma a coordenadora.

No momento em que a vítima dá entrada na unidade, segundo Silvana, ela é encaminhada ao atendimento com a equipe técnica, formada por uma psicóloga, assistente social e jurídica.

A equipe técnica no Creas é formada por duas psicólogas e duas assistentes social e oferece assessoria jurídica às mulheres vítimas de violência doméstica — Foto: Jheniffer Núbia/G1

  • O Creas de Porto Velho fica na Rua Antônio Lourenço Pereira de Lima (Antiga Rua Venezuela), nº 2360, Bairro Embratel. No Espaço Mulher, ao lado da Maternidade Municipal Mãe Esperança, Porto Velho. Telefones: (69) 3901-6340 e 9 8473-4725. Horário de atendimento no local é das 8h às 18h de segunda-feira a sexta-feira.

A psicóloga Thaís Tudela, que faz o atendimento das vítimas de violência doméstica no Creas, explica como a maioria dessas mulheres chega emocionalmente ao consultório.

“São mulheres fragilizadas, com baixa autoestima, e que não confiam em homens, mas elas entendem que amam o homem com quem elas estão, o que eu chamo de dependência emocional”, descreve.

Depois do primeiro contato com a vítima, a psicóloga pode encaminhá-la à delegacia para realizar, por exemplo, o registro do boletim de ocorrência ou até para a Defensoria Pública, onde recebe orientações jurídicas.

“Antes de eu encaminhar essa mulher para qualquer lugar, eu vou ouvi-la. Uma escuta sem julgamentos. Aqui ela será ouvida, talvez até pela primeira vez, isso fará com que ela possa refletir e não se veja como culpada pela situação, pois o agressor a convence de que ela sofre a violência porque de fato é culpada”, aponta.

Entre as necessidades principais oferecidas para respaldar a vida da vítima de agressão, segundo a equipe técnica do Creas, está em primeiro lugar o registro do boletim de ocorrência na delegacia.

“É única coisa que vai deixar claro para a Justiça que essa mulher é vítima de violência doméstica. Mesmo que ela tenha sofrido anos de agressão, mas digamos que só agora ela venha fazer o registro, a data, para Justiça, conta a partir dali. Para que tudo se resolva, é essencial o registro na delegacia. Mas se a mulher não quiser registrar, isso não impede o nosso atendimento”, afirma Thaís.

Outros serviços oferecidos à mulher vítima de violência doméstica:

  • Assistência jurídica. Ela é encaminha à Defensoria Pública, por exemplo, para requer a guarda dos filhos, processo de separação, divisão de bens;
  • Acompanhamento psicológico, pela questão emocional por conta do relacionamento. O Creas tem parceira com 'clínicas escolas', que oferecem atendimentos gratuitos; ou ainda são encaminhadas aos Centro de Atenção Psicossocial (Caps);
  • Encaminhamento à Unidade de Apoio à Mulher Vítima de Violência Doméstica;

Ciclo da violência contra a mulher

A psicóloga explica que a violência doméstica funciona como um sistema circular, o chamado Ciclo da Violência Doméstica, que apresenta três fases.

“Em alguns relacionamentos, a mulher, sem entender do ciclo, vive cada fase com a intenção de espera da etapa da 'lua de mel', mas ela não compreende que isso é um ciclo com mais perdas do que ganhos. Muitas delas percebem o ciclo da violência só depois de saírem do relacionamento”, explica Thaís.

 

Ciclo da violência contra a mulher — Foto: Fernanda Garrafiel/ Arte G1

As técnicas e a coordenadora do Creas orientam que, quando a ameaça é iminente, o socorro imediato e o ideal deve ser feito urgentemente à polícia, através do telefone de número 190.

Atendimento particular no consultório

 

Três perguntas para psicóloga Ângela Capile

Quais os tipos de transtornos ou traumas a mulher pode ter desenvolvido com a violência?A violência contra a mulher pode desenvolver inúmeros traumas e deixar sequelas incalculáveis. Esses traumas vão de depressão até fobias. É comum mulheres que sofrem violência doméstica terem depressão, ansiedade, pânico, desenvolverem obesidade mórbida, dependência de medicação controlada e síndrome de estresse pós-traumático, ideias suicidas e até dependência de drogas.
Quais os indícios de que essa mulher precisa de ajuda?A mulher que sofre violência doméstica deve procurar ajuda desde a primeira agressão, seja ela verbal, física ou psicológica. Qualquer atitude física, sexual, moral, patrimonial e psicológica do companheiro que cause dor, sofrimento prolongado deve ser indício.
Qual é o tratamento para esse tipo de violência?A violência doméstica tem dois lados : a vítima e o agressor. Para a vítima, é fundamental o acompanhamento psicológico. Para o agressor, a exemplo de outros estados, em Rondônia existe um programa, chamado “Programa Abraço”, onde busca a reeducação dos homens que praticam atos ofensivos à integridade de suas companheiras. Esse programa é desenvolvido pela equipe do Núcleo Psicossocial do Tribunal de Justiça de Rondônia.

 

Conscientização

A advogada Ghessy Kelly explica que, após a Lei Maria da Penha ter sido sancionada em 2006, conceituou de forma definitiva que a violência doméstica contra a mulher é crime.

“A lei trouxe à tona o que estava oculto, politizando algo que já estava naturalizado: grave violação dos direitos humanos das mulheres. Porém, a violência contra as mulheres transcende o campo penal, não podendo depender tão somente de medidas punitivas. A violência de gênero requer medidas mais amplas de mudança de comportamento e mentalidades da população em geral”, diz

Para a advogada, “é preciso trabalhar na conscientização de que a violência contra as mulheres, além de grave crime, é uma violação direta aos direitos humanos, que sacrifica famílias inteiras e diminui o fundamento da humanidade de atingir um patamar melhor.”

Ghessy ressalta que, quando se disponibiliza ao agressor a possibilidade de fiança pelo crime de violência contra a mulher, o próprio sistema minimiza a violência cometida por ele.

“Minimizam a responsabilidade do agressor ou a gravidade ofensiva do crime, e arbitra fiança pelo Código Penal, onde diz que a autoridade policial pode conceder fiança ao suspeito — quando este é preso em flagrante — nos casos em que a pena privativa de liberdade não seja superior a 4 anos”, finaliza.

 

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