Quando estava planejando uma medida para ampliar o acesso ao carro zero-quilômetro, o governo Lula só falava em carro popular. A ideia era reduzir o valor do automóvel mais barato do país para até R$ 60 mil – o que saiu como o esperado. No entanto, os veículos mais vendidos na primeira semana de descontos ultrapassam os R$ 100 mil. Afinal, por que o brasileiro está escolhendo os modelos mais caros?
De acordo com dados fornecidos Brasil Informações Automotiva, nos primeiros dez dias de junho, o modelo mais vendido foi o Volkswagen T-Cross, com 1.651 unidades, seguido por Chevrolet Tracker (1.412), Honda HR-V (1.390), Chevrolet Onix (1.361) e Hyundai Creta (1.299). Veículos “populares”, como Fiat Mobi e Renault Kwid nem aparecem na lista dos 16 carros mais vendidos até o momento.
É claro que não está sobrando dinheiro no bolso do brasileiro para comprar carros mais caros. A realidade é que só quem tem um orçamento mais elástico está conseguindo fechar negócio, mesmo com descontos de até R$ 8 mil.
Milad Kalume, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Jato, explica que o movimento era esperado, já que o acesso ao crédito ainda é limitado.
“Os altos juros e a baixa liberação de crédito pelos bancos provocaram pouca movimentação neste primeiro momento nos emplacamentos dos veículos de entrada. Esta não é uma conclusão definitiva, pois a liberação de crédito para quem busca este tipo de veículo costuma demandar um tempo maior. As maiores vendas estão acontecendo em segmentos onde a restrição ao crédito é menor”, diz o especialista.
Apesar dos descontos, vendas despencam
Outro detalhe importante na análise dos primeiros 10 dias de junho, segundo o consultor Marcelo Cavalcante, é que houve uma queda de 17,64% nas vendas em relação ao mesmo período de maio. Mas ele explica que isso não é um indicativo que as medidas de incentivo foram um fracasso.
“As vendas no atacado [para frotistas] despencaram neste primeiro decênio, reflexo da medida provisória que não concede os benefícios dos descontos para pessoas jurídicas até 15 dias após de sua publicação. Sendo assim, grandes frotistas e locadoras postergaram suas compras para o fim do mês. O ranking parcial de marcas e modelos reflete bem a queda nas vendas das montadoras que têm a maior participação nas vendas no atacado”, esclarece Cavalcante.
As marcas generalistas de volume que apresentam maior queda nas vendas nesses primeiros 10 dias são Renault (-41,08%), Fiat (-30,85%), Volkswagen (-26,7%), Citroën (25,53%) e Hyundai (-19,75%).