“Triste o país que tem um presidente que não tem compaixão com os brasileiros”, desabafou o governador João Doria, ao anunciar hoje, no Palácio dos Bandeirantes, o início da campanha de vacinação em massa contra a Covid-19.
Doria já marcou o dia: a 25 de janeiro de 2021, começa a vacinação de 9 milhões de pessoas em São Paulo, priorizando os profissionais de saúde, os idosos com mais de 60 anos, quilombolas e indígenas.
“Por que esperar março, como quer o governo federal, se podemos começar a salvar vidas já em janeiro?”, indagou várias vezes o governador, em aberto desafio aos planos do Ministério da Saúde, que vem protelando um plano nacional de imunização.
Com ou sem o aval da Anvisa, Doria deu a entender que não aceitará nenhum adiamento no início do Plano Estadual de Imunização anunciado nesta segunda-feira, pois a Coronavac, a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, já foi aprovada em todos os testes de segurança e eficiência.
“A vacina do Butantan não pode mais ser adiada, deve ser aplicada imediatamente, para salvar vidas e não sobrecarregar ainda mais o sistema de saúde. Precisamos da união de todos contra a luta ideológica e o negacionismo, chega de politizar essa questão”, afirmou o governador, visivelmente emocionado, sem citar o nome do presidente Bolsonaro, ao lado de Dimas Covas e de outras autoridades do governo paulista.
Na 150ª entrevista coletiva que concedeu no Bandeirantes, desde o início da pandemia, Doria anunciou também que 4 milhões de vacinas serão disponibilizadas para profissionais de Saúde de outros Estados.
Ao mesmo tempo, dando prosseguimento ao processo de militarização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para manter o controle do programa de imunização contra a Covid-19, no dia 12 de novembro Bolsonaro indicava o tenente-coronel reformado do exército Jorge Luiz Kormann para assumir um dos cinco cargos da diretoria.
Sem nenhuma experiência anterior no desenvolvimento de vacinas, Korman deve liderar a unidade encarregada de aprovar os imunizantes, se o seu nome for aprovado pelo Senado, mera formalidade burocrática. Assim, a Anvisa, um órgão técnico do Ministério da Saúde, hoje comandado por um general, terá maioria de militares na diretoria.
“A Anvisa hoje está sendo aparelhada por diretores aliados com a postura negacionista e irresponsável do ponto de vista sanitário do Bolsonaro”, advertiu o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro da Saúde, à agência Reuters.
Diante desse cenário, o que acontecerá se a Anvisa simplesmente se recusar a aprovar a Coronavac antes de 25 de janeiro?
O governo federal enviará tropas a São Paulo para impedir o início da vacinação?
Ao marcar uma data, Doria deu um xeque-mate na disputa que vem mantendo com Bolsonaro durante toda a pandemia.
Da minha parte, como idoso na faixa de risco, eu só tenho a comemorar que poderei tomar a primeira vacina no dia 15 de fevereiro e, a segunda, no dia 8 de março, uma semana antes do meu aniversário de 73 anos.