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RODRIGO PACHECO, ARTHUR LIRA, BARROSO E MAIS: RELATOS EM VÍDEO TRAZEM AS HISTÓRIAS NÃO CONTADAS DO 8/1

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Do churrasco de Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, às férias na Europa do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Do ministro que assistia a um jogo de futebol em casa ao funcionário do governo que aguardava a família chegar de mudança. A barbárie do 8 de janeiro interrompeu bruscamente a rotina de autoridades e, ainda hoje, guarda histórias não contadas sobre os desdobramentos da investida golpista em Brasília.

Um ano depois dos ataques, o GLOBO prossegue com os conteúdos especiais que marcam a grave efeméride. Abaixo, diversos personagens com papel central na contenção dos extremistas revelam detalhes e percepções pessoais sobre o episódio.

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As histórias não contadas do 8/1

Flávio Dino, ministro da Justiça

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“Estava num evento familiar, com a minha esposa. Uma assessora me telefonou e falou que a linha de contenção foi rompida. Saí do restaurante, cheguei ao Ministério da Justiça e vi que as pessoas estavam em cima do Congresso. Era visível que havia algo muito errado, porque não havia reação organizada. Liguei para o governador Ibaneis (Rocha), mas não consegui falar com ele. Liguei para o chefe da Casa Civil, doutor Gustavo (Rocha), e disse que a polícia não estava ali.

Flávio Dino: ‘Não tem comando, temos que assumir o comando’

Minutos antes, havia falado com o presidente Lula para pedir orientações. Eu disse a ele: ‘Presidente, não tem comando aqui’. Ele perguntou: ‘Como assume o comando?’ Com intervenção federal, decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), estado de defesa e, no limite, estado de sítio. Meu medo era um alastramento. O presidente decidiu pela intervenção. Começo a redigir o decreto no celular e localizo, por telefone, uma ex-assessora minha do governo do Maranhão. Fui fazendo os eixos, e ela foi me ajudando, porque não é escrever três linhas, tem que fundamentar.

A minha angústia era a velocidade da reação, porque eu temia ter daqui a pouco dez palácios invadidos e 50 rodovias obstruídas. Havia uma incerteza institucional. Já na madrugada, montamos a reunião entre os Poderes, que aconteceu dia 9. O mais importante foi a estabilização institucional”.

Rodrigo Pacheco, presidente do Senado

“Estava de férias com a minha família na Europa quando recebi a notícia da invasão. Tive contatos constantes com a ministra Rosa Weber (então presidente do STF), com o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e com o ministro Flávio Dino (Justiça). Era um momento de muita aflição e perplexidade.

Rodrigo Pacheco: ‘A resposta ao 8 de Janeiro foi uma consolidação da democracia’

Peguei o primeiro voo no dia seguinte e cheguei em Brasília no dia 9. O que aconteceu é muito grave, inaceitável: atentar contra a democracia por não aceitar resultado da eleição. Evidentemente, houve um erro, e a Justiça está analisando. Durante um bom tempo eu achava que esse tipo de coisa estava no campo da bravata, mas quando há uma manifestação com essa natureza violenta, não podemos subestimar nenhum tipo de resultado.

A decisão mais acertada foi a intervenção federal, e não o decreto de Garantia da Lei e da Ordem, porque colocar militares nas ruas poderia ser um caminho sem volta, embora não duvide da credibilidade das Forças Armadas. Por fim, houve algo muito positivo, que foi a consolidação da democracia. Os Poderes se uniram para fazer prevalecer o óbvio: o regime democrático.”

Edinho Silva, prefeito de Araraquara

“Eu e Lula estávamos em Araraquara. Tocou o meu telefone, era o (fotógrafo Ricardo) Stuckert dizendo para que eu mostrasse ao presidente um vídeo que ele havia encaminhado. Eu abri o telefone e vi a sede do Congresso sendo destruída. Reabri meu telefone e mostrei ao presidente. Ele assistiu e imediatamente disparou telefonemas aos ministros para tentar obter mais informações. Ele ficou extremamente indignado com os policiais fazendo selfie.

Edinho Silva: ‘Abro o telefone e vejo o Congresso sendo destruído’

Os ministros falavam em decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) o tempo todo, e a Janja (primeira-dama) ficou em pé e disse: ‘Eu estudei GLO durante a transição. É entregar o poder de solução do problema para os militares’. O presidente ligou para o Jorge Messias (ministro da Advocacia-Geral da União) e para o Flávio Dino (Justiça) e formou opinião de que não deveria ser GLO. Que a saída deveria ser pelas instituições da sociedade civil.

É evidente que tinham cabeças pensantes, gente articulando e muito dinheiro financiando aquilo. Na forma como o Lula respondeu, penso que a democracia venceu uma tentativa de golpe.”

Gilmar Mendes, ministro do STF

“Eu estava em Lisboa e comecei a receber as mensagens. Passei a acompanhar as notícias pela televisão e voltei para Brasília. Do aeroporto, fui direto ao STF. Fiquei chocado e me emocionei. Não esperávamos o que aconteceu, porque a posse foi num ambiente de tranquilidade, a despeito do tumulto que ocorreu no dia da diplomação do presidente Lula (12 de dezembro de 2022). Tinha-se, então, uma expectativa de que a vida tinha normalizado. A sensação é que se descarregou uma raiva imensa contra o Tribunal, fruto de toda a maquinação que se fazia.

Gilmar Mendes: ‘Felizmente, estamos contando sobre como as instituições resistiram’

As manifestações em quartéis não deveriam ter ocorrido. Imaginemos se fossem outros manifestantes, qual seria a reação? Mas, se olharmos para a situação análoga à dos Estados Unidos (ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021), acho que andamos bem.

O que devemos fazer para evitar que isso se repita? Será que estamos atentos à questão da segurança pública? Pelo menos estamos contando uma história de êxito. Poderíamos estar em outro lugar contando uma tragédia, falando de como a democracia foi erodida. Felizmente, estamos falando aqui de como as instituições resistiram.”

Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF

“Estava com a minha família, começando a fazer um churrasco, em Brasília. Preocupado com a situação, eu já tinha até levado roupa de trabalho, pensando na eventualidade de ter que me afastar da confraternização e, infelizmente, foi o que aconteceu. Fui para o Ministério da Justiça.

Andrei Rodrigues: ‘PM-DF teve atuação incompatível, contenção foi pífia’

Havia vários fatos anteriores que apontavam para a gravidade da situação. Apresentei essas preocupações numa reunião no dia 7 de janeiro. O argumento principal era de que esses criminosos não poderiam sair do acampamento onde estavam. Encaminhei um ofício no dia 7 ao meu superior hierárquico, que é o ministro da Justiça, Flávio Dino, relatando o que discuti naquela reunião e também solicitando a ele que não se deixasse esses criminosos saírem do acampamento, mediante contenção da Polícia Militar. Vi que a contenção que eu havia solicitado formalmente não estava acontecendo. Ao contrário, havia uma escolta dessas pessoas até a Praça dos Três Poderes.

Ninguém tinha a dimensão do que iria acontecer, mas percebemos que não estava tudo bem. O efetivo disposto na Esplanada era baixíssimo. Tudo apontava para um desenho que se viu devastador na sequência.”

Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça

“Minha família estava chegando de mudança de São Luís. Estava me preparando para pegá-los no aeroporto, quando vi que a coisa estava saindo do controle. Fui ao Ministério da Justiça. O interventor seria o ministro Flávio Dino, mas ele já estava diplomado como senador e não podia.

Ricardo Capelli: ‘Acampamentos não existiriam sem anuência de Bolsonaro’

Eu estava na lateral do ministério olhando para baixo pela vidraça, e eu via alguns manifestantes, e os policiais numa postura passiva. Achei aquilo perigoso. Se eles invadem o prédio, poderia acabar em tragédia. Desci, dei voz de comando e botei os policiais em linha. Quando voltei, a secretária me perguntou: ‘O senhor é o Ricardo Cappelli, mas tem algum nome no meio?’. ‘Tem, Garcia, por quê?’. ‘Porque o senhor vai ser o interventor’.

Fiquei assustado na hora, mas a gente precisava de ação. Tem momentos em que não cabe muito debate, reflexão, porque cada minuto pode conduzir a História para um lado ou para outro. Foi uma noite que não acabou. Foi feito um acordo de desmontar o acampamento no QG às 6h30. Mas ficava aquela insegurança: entre 0h e 6h30, o que pode acontecer? Foi um dos momentos mais tensos.”

Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados

“Era período de recesso, e eu estava em Barra de São Miguel (AL). Recebi telefonemas para que ligasse a TV e visse o que estava ocorrendo. Pedi ajuda ao Batalhão de Choque para os trabalhos da Polícia Legislativa. Voltei para Brasília na mesma noite.

Arthur Lira: ‘Tinha urgência de votar a intervenção no DF’

A minha sensação era de perplexidade, tristeza e indignação, porque a Câmara nunca fechou as suas portas, mesmo na pandemia. Procurei fazer tudo o possível principalmente para preservar o símbolo da democracia popular, que é o plenário. Na chegada, fui direto ao hotel onde o Lula estava. Os ministros já estavam lá.

A situação mais crítica era a incerteza de as ordens serem cumprida pelas forças policiais. Fui para a Câmara por volta de 1h30m. Funcionários antigos choravam vendo a situação em que a Casa se encontrava.”

Luís Roberto Barroso, presidente do STF

“Eu e a ministra Rosa Weber (então presidente do STF) chegamos juntos e percorremos o térreo do prédio. Ela falou: ‘Vamos reconstruir tudo até a primeira sessão’, que seria em 1º de fevereiro, o que efetivamente aconteceu.

Barroso: ‘Golpe estava articulado desde a proposta de voto impresso’

O 8 de Janeiro não foi um fato isolado. Foi o ponto culminante de um processo de desrespeito às instituições. Houve muita vontade de golpe, mas pouca ação efetiva de lideranças que tinham a capacidade. Era preciso que as Forças Armadas tivessem aderido.

Na minha visão, o processo de golpe estava articulado desde a tentativa de volta do voto impresso. Ali estava o germe, denunciar fraude onde não houve”.

Paulo Pimenta, ministro da Secom

“Assistia a um jogo em casa quando vi as primeiras imagens. A movimentação ainda não tinha chegado ao Congresso, mas tinha uma coisa esquisita.

Paulo Pimenta: ‘É impossível que aconteça o que aconteceu sem cumplicidade’

Já participei de muita manifestação na Esplanada, e o cordão de contenção fica muito antes de onde as pessoas estavam. Cheguei ao Planalto e não tinha ninguém na guarita.

Quando cheguei à Secom (Secretaria de Comunicação Social) era um cenário de destruição total. Era impossível acontecer aquilo sem participação de uma parte do Estado que foi corrompida por esse projeto golpista”

Marcela Pinno, cabo da Polícia Militar do DF

“A operação começou às 13h, com o cerco ao hotel onde o presidente Lula estava hospedado. Depois, fui deslocada para o Congresso. Eles romperam os gradis e começaram a arremessá-los contra os policiais.

Marcela Pinno: ‘Nunca tinha visto esse grau de agressividade’

Recebemos a ordem de atuar de cima da Cúpula do Congresso, mas ficamos cercados. Fomos agredidos com barras de ferro, rojões e coquetéis molotov. Fomos empurrados de cima da cúpula. Caímos e ainda assim conseguimos retornar para a via, mas eles começaram a me agredir novamente.

Foi muito intenso. Seis ou sete em cima de mim, estavam me arrastando. Percebi que eles iriam me puxar para o meio da multidão, e aí eu larguei o escudo. Recebi um chute e caí no chão. Esse foi o pior momento: me tentaram tirar a minha arma e me acertaram com uma barra de ferro na cabeça. Se eu tomasse outra pancada como aquela, acho que não teria resistido.

Arrancaram meu capacete e perceberam que eu era mulher, mas continuaram me agredindo da mesma forma. Só consegui chegar ao hospital por volta de 1h e fiquei hospitalizada”.

Beroaldo Júnior, subtenente da Polícia Militar do DF

“Fomos direto ao hotel onde o presidente Lula estava hospedado, mas, chegando lá, tivemos a notícia de que ele não estaria ali. Então nos reposicionamos na Esplanada dos Ministérios. Quando os manifestantes romperam a primeira linha na rodoviária, o nosso nível de alerta aumentou.

Beroaldo de Freitas: ‘Começaram a me espancar e gritar ‘Mata, mata”

O comandante falou que, se rompesse a segunda linha, poderíamos atuar, sem precisar de autorização. E assim foi feito. De imediato, já atacaram a tropa. Eles não se intimidaram, estavam com máscara e bem direcionados no que tinha que fazer, a gente percebia bem essa organização. Ficamos cercados na cúpula do Congresso e nos jogaram lá de cima.

Começaram a me espancar e ficavam gritando: ‘Mata, mata, mata’. Deram pancadas com barra de ferro na minha cabeça e desmaiei duas vezes. Vieram dois policiais me resgatar. Decidi romper as grades e mandar o pessoal para dentro do Palácio do Planalto. Tivemos um refúgio, porque ali o Exército começou a atuar.

Já participei de ocorrências de sequestro, assalto a banco, mas dessa eu tinha certeza que não ia sair vivo. Tinha contra-ataque de tudo o que a gente fazia. Eles sempre tinham uma estratégia que nos colocava em situação de dificuldade, na defensiva. Alguns amigos e vizinhos deixaram de falar comigo e minha família. Achavam que os policiais estavam errados de ter prendido os manifestantes.”

Adilson Paz, diretor de segurança da Câmara

“Eu cheguei à Câmara às 8h e já fiquei em contato com a Polícia Militar para saber como seria a descida do grupo (que estava no acampamento). A gente estava preparado e, diante daquela turba ensandecida, deu pronta resposta. Só não conseguimos conter pela quantidade de pessoas. E eram articulados, sabiam o que queriam. Mapearam todos os acessos da Casa e sabiam exatamente o que estavam fazendo.

Adilson Paz, diretor de Segurança da Câmara — Foto: Brenno Carvalho
Adilson Paz, diretor de Segurança da Câmara — Foto: Brenno Carvalho

Vieram com máscara anti-gás para se proteger. Decidimos nos concentrar de forma estratégica no plenário da Câmara dos Deputados, e eles não conseguiram invadir. Depois de três horas de intenso confronto, o Batalhão de Choque chegou, e aí conseguimos expulsar todos os manifestantes. Passamos a noite fazendo varreduras, porque havia risco de ter explosivos.

Tivemos cinco policiais legislativos feridos. Um deles quase perdeu a mão, porque uma granada explodiu. Um outro foi espancada perto da rampa e trincoi a costela. Hoje estão bem. Nosso policiamento hoje é mais integrado com os órgãos de segurança pública”.

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