Obra da Creche Pró-infância começou em 2008, passou por cinco mandatos de prefeitos, sofreu furtos e virou símbolo de descaso com a educação infantil.
Em Ouro Preto do Oeste (RO), a Creche Municipal Pró-infância é o retrato fiel do descaso com o dinheiro público. Localizada na Rua Guaporé, no Conjunto Habitacional Dom Bosco, próximo ao Park Amazonas, a obra foi anunciada em 2008 com a promessa de atender dezenas de crianças. Hoje, 17 anos depois, o prédio continua fechado, deteriorando-se com o tempo e com o abandono.
O convênio com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) foi assinado em 27 de junho de 2008, na gestão do então prefeito Braz Rezende, prevendo um custo inicial de R$ 707.070,01 — dos quais apenas R$ 7.070,01 seriam de contrapartida do município e R$ 700 mil repassados pelo Governo Federal. Mas a promessa se transformou em um interminável canteiro de obra.
Foram 20 termos aditivos, atrasos sucessivos e dois contratos rompidos. O valor final ultrapassou R$ 1,63 milhão, representando um aumento de 130,93% sobre o orçamento original. Mesmo assim, nenhuma criança estudou um único dia no local.
O convênio foi encerrado em 25 de junho de 2024 porque o município não aderiu ao Pacto Nacional pela Retomada de Obras no prazo regulamentar. Enquanto isso, a estrutura foi alvo de furtos de fiação elétrica, gerando mais prejuízo ao contribuinte.
Questionada pelo vereador Weuler Silva, que investiga o caso, a Prefeitura limitou-se a informar que está na fase final de licitação para compra de mobiliário — uma resposta que, após quase duas décadas, soa como provocação à população.
Para agravar, nem a Prefeitura nem o FNDE souberam informar a data oficial de início da construção. Moradores afirmam que as obras começaram antes de 2016, mas o primeiro contrato disponível no Portal da Transparência é de 27 de novembro de 2017, firmado com a Compacto Construções Ltda ME, que abandonou a obra em julho de 2022. Depois, a Focus Serviços EIRELI assumiu em dezembro de 2022, com previsão de entrega para maio de 2023 — prazo que também não foi cumprido.
No Sistema Simec, a obra aparece como “99% concluída” e “status concluída”, mas, na prática, permanece com portões trancados e salas vazias.
Linha do tempo do descaso
2008 – Convênio assinado (Prefeito Braz Rezende)
2009-2012 – Recebimento do recurso original de R$ 700 mil (Prefeito Alex Testoni)
2013-2016 – Alex Testoni continua no cargo
2017-2020 – Recebimento de mais R$ 912.902,42 (Prefeito Vagno Panissoli)
2021-2024 – Novo contrato vigente (Prefeito Alex Testoni)
2025-2028 – Gestão atual: creche segue fechada
Enquanto o poder público se perde em aditivos, licitações e promessas, crianças de Ouro Preto do Oeste continuam sem acesso a uma vaga que poderia mudar o futuro delas. A Creche Pró-infância se transformou em um símbolo de desperdício e da impunidade administrativa — um monumento ao abandono, que a cada ano reforça a pergunta: quem será responsabilizado por essa vergonha?
