Após permanecer detido desde agosto na Penitenciária Estadual de Dourados (PED), um pastor de 53 anos, acusado de violação sexual mediante fraude, obteve liberdade provisória na última sexta-feira (9). A decisão da Justiça, embora garanta que ele possa responder ao processo fora do regime fechado, impôs uma série de medidas restritivas, incluindo o uso de monitoramento eletrônico por 90 dias e uma ordem de afastamento das vítimas, com proibição de contato e a obrigatoriedade de manter uma distância mínima de 300 metros.
A defesa do acusado foi realizada pelos advogados Rubens Saldivar e Bianca de Oliveira Guirelli, que solicitaram a medida de liberdade provisória, argumentando que o réu estaria colaborando com as investigações e que a manutenção da prisão preventiva seria desnecessária. Contudo, as restrições foram mantidas pela Justiça devido à gravidade das acusações e ao impacto do caso na comunidade local.
O caso começou a ser investigado em julho pela Delegacia de Atendimento à Mulher (DAM) de Dourados, após publicações nas redes sociais revelarem os primeiros relatos das vítimas. O pastor é acusado de utilizar sua posição de líder espiritual para atrair mulheres, especialmente jovens, com promessas de “cura espiritual” e proteção. Segundo as investigações, ele estabelecia um ambiente de confiança, promovendo momentos de oração e se apresentando como figura de autoridade religiosa.
As vítimas relataram à polícia que o pastor realizava encontros espirituais nas madrugadas, quando falava em “línguas” e em um tom elevado de voz, criando um ambiente místico e intimidante. Durante essas sessões, ele teria iniciado contato físico com as mulheres, que incluíam beijos e toques inapropriados, além de incitar algumas delas a praticarem relações sexuais, alegando que esses atos faziam parte de um ritual de cura.
Até o momento, quatro vítimas foram formalmente identificadas pela DAM, três delas com idades entre 20 e 22 anos e uma mulher de 40 anos. Os depoimentos coletados pela polícia incluíram relatos de outros membros da igreja e obreiros, que descreveram o comportamento do pastor e confirmaram a ocorrência dos encontros relatados pelas vítimas.
A comunidade local e redes sociais reagiram com indignação diante das acusações, especialmente após os detalhes das denúncias virem à tona. A repercussão provocou uma discussão sobre a confiança depositada em líderes religiosos e o uso de autoridade espiritual como forma de manipulação. Membros da igreja onde o pastor atuava também prestaram depoimento, alguns demonstrando surpresa e outros apoiando as investigações.
O pastor responderá ao processo em liberdade, mas sob vigilância das medidas cautelares estabelecidas pela Justiça. O uso da tornozeleira eletrônica será monitorado pelas autoridades, e o cumprimento da ordem de distanciamento das vítimas será essencial para a manutenção da liberdade provisória. A DAM prossegue com a investigação e não descarta a possibilidade de surgirem novos relatos de vítimas que ainda não se manifestaram.
O caso trouxe à tona questões sobre o abuso de poder dentro de comunidades religiosas e reforçou a importância de canais de denúncia e acolhimento para vítimas de violação sexual. Organizações de apoio e assistência social em Dourados alertam para a necessidade de uma vigilância comunitária e acompanhamento psicológico para as vítimas, que estão sendo orientadas a procurar apoio terapêutico para superar o trauma.