Indígenas de várias partes de Rondônia fizeram uma manifestação na manhã desta quinta-feira (31) em Porto Velho. A mobilização aconteceu em frente ao Palácio do Governo, no Centro Político-Administrativo (CPA). O objetivo foi a cobrança de ações mais rigorosas contra as invasões nas terras indígenas. Seis reservas já foram alvo dos criminosos.
A manifestação envolveu ao menos 90 indígenas de 10 etnias, entre elas Karipuna – que passou por uma operação recentemente da Polícia Federal –, Karitiana, Uru-eu-wau-wau e Kanoé.
Os indígenas chegaram no CPA no fim da manhã desta quinta. Eles queriam ser recebidos por alguém do governo, mas não conseguiram. Com isso, ficaram mobilizados por algum tempo.
Os manifestantes levaram cartazes para demonstrar a insatisfação contra a decisão do atual Governo Federal de passar a Fundação Nacional do Índio (Funai) ao Ministério da Agricultura.
Também protestaram contra a falta de proteção nas terras indígenas. “Nosso objetivo é chamar a atenção da sociedade brasileira, do Governo Federal, nesse retrocesso de direitos indígenas. Nós queremos que os nossos direitos, da Constituição de 88, sejam respeitados e cumpridos”, disse a conselheira da Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia, Eva Kanoé.
Apoio da Força Nacional
A Superintendência da Polícia Federal (PF) informou no último dia 30 de janeiro que o Ministério Público Federal (MPF) deve solicitar ao Ministério da Justiça apoio da Força Nacional nas terras indígenas que sofrem com invasões em Rondônia.
O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Franklimberg Ribeiro Freitas, informou que o órgão, junto às forças estaduais e federais, vão integrar uma força tarefa para atuar na área de inteligência – investigar e identificar os responsáveis.
Na última terça-feira, a PF apreendeu maquinários usados para desmatar a terra indígena Karipuna, em União Bandeirantes, distrito a pouco mais de 150 quilômetros do perímetro urbano de Porto Velho. Ao todo, 50 policiais participaram da ação.
De 18 terras indígenas existentes no estado, seis delas já foram invadidas por grileiros e madeireiros. Um dos territórios é cinco vezes que o Distrito Federal, por exemplo.
Por que preservar a Terra Indígena?
A terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau, por exemplo, tem 1.867.000 hectares de tamanho, o que equivale a 12 vezes o território da cidade de São Paulo ou 85% da extensão territorial do estado de Sergipe. A unidade de conservação, a maior terra indígena dentro de Rondônia, é rica em biodiversidade e abriga nascentes de importantes rios que cortam o estado.
Segundo ambientalistas, a produção de energia através de hidrelétricas poderia ser comprometida, tendo em vista, que o Parque Nacional de Pacaas Novos abriga, por exemplo, a nascente do rio Jamari que abastece a Usina Hidrelétrica de Samuel, em Porto Velho.
Além disso, os ambientalistas acreditam que, caso a invasão se intensifique dentro da região, a agricultura e o próprio agronegócio, motor econômico do estado, poderiam sofrer sérias consequências com a possível falta de água. Outro impacto seria a desestabilização climática na região, importante fator para o cultivo de algumas culturas específicas.
Por fim, a própria vida dos indígenas que habitam a região demarcada estaria em risco. Isso porque cerca de dez aldeias, vários povos nômades, além de três povos isolados habitam a região. A sobrevivência desses indígenas é dependente da agricultura, caça e extrativismo restringidos a eles.