Preso por ter queimado as partes íntimas da ex-companheira, Jessé Nogueira alegou em depoimento à polícia que o ato não passou de um acidente. Agerlândia Miranda, de 25 anos, continua internada no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb) após ter tido queimaduras de 3ª grau nas coxas e partes íntimas.
Após novo laudo apontando que as lesões eram graves, o delegado que cuida do caso, Marcos Franck, pediu a prisão preventiva de Nogueira, que foi levado ainda no domingo (24) para o presídio Evaristo de Moraes.
O caso aconteceu no último dia 12 e o suspeito já havia se entregado três dias após o ocorrido, mas liberado após oitiva.
Agerlândia contou que no dia do crime voltou em casa porque a filha mais velha havia ligado dizendo que o suspeito não faria almoço para ela e a irmã mais nova. A cuidadora de idosos tem três filhas, de 2, 9 e 10 anos, sendo que apenas a mais nova é do relacionamento com Nogueira.
O casal iniciou uma briga porque, segundo a vítima, o suspeito tinha ciúmes e não aceitava o fim do relacionamento.
'Acidente'
Márcio Vasconcelos é o advogado que acompanhou o suspeito na primeira apresentação na delegacia três dias após o ocorrido. Ele disse que não sabe se ainda vai continuar no caso, mas disse que Nogueira alega que a agressão não foi proposital e que estava se defendendo de tapas que Agerlândia dava nele.
“A versão dele é que volta e meia ela saía de casa e voltava de madrugada. Como ele é muito amigo do pai dele, o pai pediu que no dia que ele não quisesse mais ela avisasse e que não fizesse nada com ela. Nesse dia, na madrugada, ela sumiu e ele [Nogueira] ligou para os pais avisando e parece que eles deram uma chamada nela. Então, ela já chegou em casa muito brava”, conta o advogado.
A água fervendo, segundo a defesa, era para acabar com uma casa de formiga. Em depoimento, Nogueira disse que as crianças podem confirmar sua versão.
“No depoimento que ele deu para o delegado, disse que tinha feito o almoço e que as meninas estavam reclamando da casa de formiga. Eles esquentou a água, jogou na casa de formiga e colocou mais água para esquentar. Foi quando ela chegou questionando o motivo dele ter ligado para os pais dela, porque ela era maior de idade e aí a briga começou”, conta Vasconcelos.
Os dois começaram a se agredir e, de acordo com o depoimento do suspeito, Agerlândia começou a dar tapas no rosto dele. “Ele se defendeu com a mão que estava sem a água fervendo e ela começou a bater do outro lado do rosto, foi quando ele disse que a água caiu em cima dela e, inclusive, quase caiu em cima da filha mais nova de dois anos”, alega.
Agerlândia nega essa versão.
Controvérsias
A versão do suspeito não bate com a de Agerlândia. Ela contou que a filha mais velha havia ligado para ela dizendo que ele não havia feito almoço para ela e a irmã de 9 anos e que sairia para comer na casa da mãe com a filha mais nova do casal.
O advogado de defesa diz também que Nogueira fugiu para a casa do irmão, que fica perto do local onde o crime ocorreu e que ele teria acionado o Samu, porém, o pai da cuidadora, Aldemir Miranda, de 40 anos, contou que chamou a ambulância após a neta ligar e contar do ocorrido.
O advogado alega ainda que o suspeito quer pagar pelo crime como sendo um acidente e não uma tentativa de homicídio, pois, segundo Vasconcelos, ele não teria intenção de machucar a mulher.
“Ele quer cumprir pena pelo acidente e não por intenção de matar”, finaliza.
‘Me sinto mais segura’
Ainda no Huerb, Agerlândia disse que se sente mais segura após saber da prisão preventiva do ex-marido. Ela se recupera bem e deve receber alta ainda nesta segunda, mas ainda não tem data para voltar a Sena Madureira.
“Não tenho como ir agora pelas questões das queimaduras. Preciso esperar cicatrizar tudo”, completa.
Tanto ela, como todas as filhas, que viram as agressões, estão recebendo atendimento psicológico através do Centro de Atendimento à Vítima (CAV), do Ministério Público do Acre (MP-AC).
Mulher está internada com queimaduras de terceiro grau e sem previsão — Foto: Arquivo pessoal