O advogado Júlio César Domingues Rodrigues revelou que atuou como “funcionário” do advogado Joaquim Mielli Camargo na negociação do pagamento de uma dívida da Assembleia Legislativa com o banco HSBC. A declaração ocorreu durante seu depoimento na audiência de instrução da “Operação Ventríloquo”, que apura desvios de R$ 9,5 milhões no pagamento da dívida.
À época das fraudes Mielli era o representante do HSBC em Mato Grosso. Em delação premiada ao Ministério Público, ele contou que firmou um acordo com Riva para pagamento da dívida. Contudo, ficou “acertado” que ele devolveria 50% do valor ao ex-deputado. No esquema, Júlio César teria agido como lobista e, após efetivação dos pagamentos, passou a fazer ameaças ao delator.
Contudo, o depoimento de Mielli foi rechaçado por Domingues. Ele afirmou que pediu emprego ao delator e foi contratado como consultor jurídico. “Em toda essa história, eu fui um bode expiatório para o doutor Joaquim”, declarou.
Domingues contou que trabalhou na ação referente a dívida do HSBC com a Assembleia por ordem de Joaquim Mielli. A ação tramitou por cerca de 16 anos, começando em R$ 900 mil, sendo que o acordo foi fechado em R$ 9,4 milhões.
Ele disse ainda que o HSBC, ao contrário do que diz a denúncia, teve conhecimento de todo o desenrolar da ação. “O Joaquim me usou par andar onde ele já tinha andado e não havia conseguido nada. Meu trabalho foi elaborar a petição, porque o Joaquim não sabia elaborar”, relatou.
Pelo serviço, Júlio César contou ter recebido R$ 340 mil, que foram depositados em sua conta pelo delator do esquema. “Nunca escondi esse dinheiro, são os meus honorário. Não se trata de esquema, mas do meu trabalho. Os valores estão de acordo com a tabela da OAB”, frisou.
O advogado colocou ainda que nunca tratou esta questão diretamente com José Riva ou com o ex-secretário geral da Assembleia, Luiz Márcio Bastos Pommot. “Eu encontrava com representantes deles. Minha função era levar e buscar documentos”.
Domingues confirmou que teve um desentendimento com Joaquim Mielli, mas negou ameaças. Ele afirmou que chegou a procurar José Riva na sede da Assembleia para tratar sobre seus honorários na causa, mas sequer foi recebido.
Ao final do depoimento, o advogado, que teve o pedido de liberdade negado pela juíza Selma Rosane Santos Arruda, disse que a delação foi um “bom negócio” para o ex-patrão. “Mesmo ele perdendo a carta de representante do HSBC e dos problemas que teve com a OAB, ele ainda saiu lucrando”, assinalou.
SILÊNCIO
Outro réu a depor nesta sexta-feira foi o ex-procurador geral da Assembleia, Anderson Flávio Godoi. Contudo, ele optou por permanecer em silêncio na oitiva. “Ainda faltam testemunhas para serem ouvidas, então ficarei em silêncio”, afirmou.
Godoi afirmou que foi extremamente prejudicado por ter seu nome envolvido com as fraudes na Assembleia Legislativa. “Desde a operação, não apareceu sequer um cliente no meu escritório”, lamentou.
Ainda restam serem ouvidos o ex-deputado José Riva e o ex-secretário geral da Assembleia Legislativa, Luiz Márcio Bastos Pommot. A oitiva com eles foi agendada para o dia 22 de janeiro.